Fátima Miguez


Fátima Miguez (1954-2014), carioca, formada em Letras pela UFRJ e professora do Departamento de Ciência da Literatura da UFRJ desde 1979.
Autora de literatura infanto juvenil, teve seu primeiro livro lançado em 1998, A cama que não lava o pé, seguido, em 1999, pelo segundo título Em boca fechada não entra mosca.
Vários de seus livros receberam o selo "Altamente Recomendável" da FNLIJ. 
Ganhou o prêmio Alejandro José Cabassa, da UBE, com o livro Seu Vento soprador de Histórias, que foi também finalista do Prêmio Jabuti de Melhor Livro Infantil e, em 2005, foi publicado na França pela editora Passage Pietons com o título Le Vent souffleur d'histoires.

Para conhecer os outros livros da Fátima Miguez clique aqui.

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Aqui  compartilho uma entrevista que Fátima concedeu ao Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (publicado em 18/03/2013):

(...) O site do Santuário traz uma entrevista exclusiva com a Fátima Miguez, sobre as aventuras e desventuras dessa arte de  fazer e contar Histórias.

Site: Quantos livros já escreveu? Existe algum que você considera a essência do seu trabalho? Está escrevendo algum livro atualmente? Poderia nos contar um pouco desse novo projeto?

Fátima: São 21 livros publicados ao longo de 13 anos como escritora profissional. Cada livro lançado é como um filho, gerador de vida no imaginário da infância. Revisitar esse universo mágico da criança, onde brincar revela-se como uma forma de conhecer e experimentar o mundo, é uma constante na minha produção.

Tenho alguns livros que tematizam a infância e, um deles, em especial, essencializa o meu trabalho, é o volume "Paisagens da Infância", da Editora Nova Fronteira. Esse livro é um resgate de brincadeiras tradicionais, como, por exemplo, amarelinha, passar o anel, ciranda de roda, que são jogos atemporais e devem fazer parte da infância de qualquer geração.

Escrevo também livros teóricos para o acervo de professores, de educadores. Acabei de lançar, no Salão do Livro para Crianças e Jovens, o livro "A Literatura na leitura da infância" e, atualmente, estou começando novo projeto sobre "Os contos de fada na sala de aula". É uma pesquisa que envolve a origem da literatura infantil na Europa do século XVII, precisamente em 1697, com a publicação dos "Contos da Mamãe ganso", do francês Charles Perrault, segue até a Alemanha dos Irmãos Grimm, no século XIX, passando pelo dinamarquês Hans Christian Andersen, até tais contos de fada chegarem ao Brasil no século XIX e, finalmente, se revitalizarem no século XX e XXI.

Site: Num país onde ainda se lê muito pouco, como incentivar na criança o gosto pela leitura?
Fátima Miguez: Realmente ainda não somos um país leitor. Precisamos investir mais na formação do leitor, na qualidade do livro, nas políticas de incentivo à leitura. O primeiro passo para incentivar na criança o gosto pela leitura começa na família. A família é essencial na construção e perseverança do leitor, fruto de uma iniciação. Quanto mais experiências com livros a criança tiver, maior será seu repertório de leituras. O convívio familiar, num clima de envolvimento constante com os livros, desperta a curiosidade da criança, abrindo-lhe oportunidades de ouvir e presenciar leituras alheias. Portanto, presentear a criança com livros de literatura é iniciá-la no caminho da leitura reveladora.

Site: Na arte de contar história, o que deve ser evitado?

Fátima Miguez: Deve-se evitar numa contação de histórias: os vícios de linguagem; inserir perguntas no decorrer da história; denunciar o erro apenas porque trocou uma palavra por outra; interromper a história, parar a narração; tropeçar nas palavras.
Site: O que você diria para quem deseja ser um contador de história?

Fátima Miguez: Que todo contador de histórias tem que gostar de literatura, de leitura. Mesmo que ele ainda não tenha um acervo acadêmico de histórias, ele deve ter, pelo menos, um fascínio por histórias ouvidas, contadas no ambiente familiar, na vizinhança, através da oralidade.

Site: Quais as dicas que você daria para a escolha de um livro para a criança?

Fátima Miguez: O livro de literatura infantil tem que ser considerado como um objeto completo, portador da palavra e da imagem (ilustração) em dialógica comunhão artística. O acesso a uma literatura de qualidade passa pelo encontro dessas duas artes. Mas nunca se deve esquecer que a qualidade literária privilegia a imaginação, como primeira experiência de leitura do mundo da criança. Portanto, o livro para a infância tem que falar à imaginação da criança.

Site: Hoje a criança tem acesso a informação mais rapidamente através do computador, televisão, isso dificulta o interesse da criança pelo livro?
Fátima Miguez: Sim, com certeza. O que ocorre é que esses meios de comunicação tecnológicos já trazem tudo prontinho, programado, eles apagam a imaginação da criança, motor natural da infância. O livro acende a fantasia, ilumina a curiosidade, provoca uma participação produtiva da criança. Que a criança tenha acesso a toda modernidade, com limites, mas também sejam garantidas a elas o espaço do lúdico, da imaginação, através da leitura de bons livros, das brincadeiras ao ar livre, do convívio afetivo familiar.

Site: Como você percebe o mercado dos livros infantis no Brasil?

Fátima Miguez: O mercado editorial infantil e juvenil vem crescendo a cada ano. Cada vez mais os editores investem na qualidade do livro estimulando escritores e ilustradores a uma constante produção. É um mercado que vem se destacando no cenário editorial brasileiro.

Site: Como foi a experiência da Oficina de Contadores de História no Santuário?

Fátima Miguez: Foi gratificante e edificante. Pela primeira vez, depois de já ter formado tantos outros grupos de contadores de histórias, em espaços diversificados, deparei-me com um grupo, de 22 componentes, que reuniu faixas etárias dos 13 aos 81 anos. E o que é melhor: da adolescência à velhice, o encanto foi o mesmo. Nas duas pontas da existência, as histórias, os ensinamentos revelaram-se de forma apaixonada, comprometida, enriquecedora. Acredito que eu tenha recebido mais do que tenha dado, só tenho a agradecer a Deus por essa renovadora experiência em minha trajetória profissional.

Site: Que mensagem você deixa para os internautas do Santuário?

Fátima Miguez: Uma mensagem de amor aos livros, à Poesia, à Literatura, ao mundo da infância. Estamos celebrando, neste final de semana, o dia das Mães, dirijo-me a cada mãe, frequentadora do Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, desejando que Maria, exemplo de maternidade, inspire a cada uma na educação de seus filhos orientando e abençoando a família sempre em busca da construção de um mundo melhor.

Fonte: http://www.santuarioperpetuosocorro.org.br/detalhar_noticia.php?id=1091 

(^_^)

A escritora infanto-juvenil Fátima Miguez participa do programa do Ziraldo na TV Brasil (2010). Fátima conversa com Ziraldo sobre seus livros, o trabalho fabuloso do pintor Cândido Portinari e como ele aparece nos seus livros. Uma entrevista interessante e cultural que nos remete a imaginação infantil e a nossas lembranças da infância.

1.ª parte

2.ª parte


Em 19 de junho de 2014, Fátima Miguez partiu... O céu ficou mais cheio de poesia...
O escritor Celso Sisto escreveu uma homenagem à amiga que compartilho aqui com vocês:

Migração

sol
lâmina cortante
talho
que a linha reta
insiste em bordar
fio luminoso
que liga também
o que já se exilou.

se a vida
que se transfere
para outros reinos
souber honrar
a história
a memória da voz
na infância dos tempos
não deixará
um “era uma vez”
sem casa.

asa asa asas
o voo doce de Fátima
fundou o materno lar
e o círculo
que um dia
fará nossa fortuna.

as palavras amadas
nunca são breves
e nunca têm fim.

Celso Sisto
20 de junho de 2014


Organizado por Ivanise Meyer

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