Mito da Criação da Noite
Mito da criação da noite
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Antigamente não havia noite. Era sempre dia. O Sol brilhava esquentando a Terra. A Lua e as estrelas eram como o Sol. Tudo era luz e claridade na aldeia e na floresta. Os homens trabalhavam sem cessar e as mulheres trabalhavam sem descanso, pois era sempre dia, noite não havia.
O Sol fazia seu percurso até o poente para então retornar pelo caminho inverso ao nascente. Mauá controlava o Sol, a Lua e as estrelas, não permitindo que ninguém deles se aproximasse.
Certa vez, um homem quis saber como o Sol funcionava. Esperou que Mauá saísse para caçar e aproximou-se do Sol. Ao tocá-lo, o Sol quebrou, o mesmo acontecendo com a Lua e as estrelas. E a noite surgiu engolindo tudo. Os homens que caçavam na mata ficaram perdidos na imensidão do escuro. As mulheres mal conseguiam encontrar suas redes dentro da maloca. Crianças e idosos lamentavam-se do fundo da noite sem luz.
Mauá voltou para consertar o Sol. Ao ver o homem que o havia quebrado, Mauá lançou-se sobre ele e o atirou longe. Quando caiu, o homem transformou-se no macaquinho-mão-de-ouro, escuro como a noite e com as mãos douradas como o Sol que havia tocado.
Não foi possível consertar o Sol para que funcionasse como antes. O Sol caminhava para o poente, mas não conseguia retornar, sumindo no horizonte e deixando a Terra na escuridão. Mauá então fez com que a Lua e as estrelas surgissem na ausência do Sol para iluminar um pouco a noite. E é assim até hoje.
Este é o mito da criação da noite dos índios Waimiri-Atroari, que habitam Amazonas e Roraima, na região norte do Brasil. Mauá, para eles, é o ser criador que transforma os homens em animais e cuida dos elementos da natureza: quando está zangado, sopra a ossada da cabeça de uma onça para fazer o trovão. É o guardião da vida: ao nascer uma criança, Mauá está sempre por perto. Mauá protege, mas também se vinga. É um guerreiro como o povo Waimiri-Atroari. O macaquinho-mão-de-ouro que aparece no mito é respeitado pelos índios por acreditarem que ele já foi gente e porque, graças a ele, hoje existe a noite.
Edith Lacerda, educadora que compartilhou durante quatro anos o cotidiano desse povo atuando como professora, recolheu este mito e escreveu esta adaptação.
Retirado de: Revista Ciência Hoje das Crianças, SBPC, ano 12, n.º 94 (agosto/1999)
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